PROPOSTA DE TOMBAMENTO DA EDIFICAÇÃO ALCIDES CARVALHO

(prédio Central do Instituto Agronômico de Campinas

Processo de Estudo de Tombamento nº 05/15:

Edificações e respectivos mobiliários do Instituto Agronômico de Campinas

SITUAÇÃO ATUAL:

O prédio central “Alcides Carvalho”, sede do Instituto Agronômico de Campinas – IAC – sito à Av. Barão de Itapura, nº 1481, (Vila Itapura), QT. 381, aberto pelo Processo de Estudo nº. 005/15 está inserido na área envoltória do bem tombado Processo de Tombamento nº 005/00 e Resolução nº 143 de 2015, “Instituto Agronômico de Campinas – IAC”. (Foto 01)

Foto 01- Vista da fachada frontal do prédio Central “Alcides Carvalho” do Instituto Agronômico de Campinas.
       Foto do autor - 24/03/2016

A edificação citada trás uma historicidade convergida em um dos últimos processos de adequação da estrutura física para a pesquisa agrícola. Atualmente, com o advento da tecnologia e bases digitais entrou em desuso a adaptação ou investimento em construções erigidas. Pelo exposto, este edifício comprova a necessidade de guardar um dos últimos testemunhos construído em se tratando deste modelo de investimento. No texto a seguir demostramos o período temporal analisado por meio de citações de obras como o “Chão Fecundo”, 1987 e “Carta Periódica aos Técnicos do Instituto Agronômico, Notícias do Agronômico”, Ano I, nº 2, 22/06/1963: 

 “....pensando-se apenas em conseguir mais espaço para uma biblioteca, iniciou-se em 1960 a construção do prédio que, com certa impropriedade, ainda seria chamado de “novo” 27 anos depois, na época do centenário.”
“A antiga sede, bela em suas linhas antigas e tradicionais, não atende, hoje, às necessidades crescentes da Instituição, motivo pelo qual sentiu-se a urgência de instalações mais amplas, modernas e confortáveis....O estilo, contrastando com o dos antigos prédios, é um elo entre o passado glorioso e o futuro promissor. Seu projeto é do arquiteto francês Raymond Jehlen, tendo a construtora Freitas Barros S.A., sido a responsável pela execução.” (Carta Periódica aos Técnicos do Instituto Agronômico,  Ano I, nº 2,1963). 
“...Quando Glauco Pinto Viégas tomou posse, a construção já avançara até quase o fim, mas estava paralisada. O novo diretor também enfrentou dificuldades com verbas, mas conseguiu inaugurar o edifício no dia 27 de junho de 1963, nas comemorações do 76º. Aniversário do Instituto...”
“Esse edifício de construção mais recente abriga, além da Diretoria Geral e sua Assessoria, toda a Divisão de Administração. Ali também fica a biblioteca, com mais de 140 mil obras, algumas muito raras.”(Chão fecundo. 100 anos de história do Instituto Agronômico de Campinas, Agroceres,1987).
O prédio central/edifício sede do IAC leva o nome de Alcides Carvalho, um pesquisador cuja “...vida acadêmica foi inteiramente dedicada ao estudo do café. Engenheiro Agrônomo de formação (ESALQ- Escola Superior de Agricultura Luis de Queirós) despontou-se como Geneticista dentro do Instituto Agronômico de Campinas. De 1948 a 1981, ele foi pesquisador chefe da seção de Genética do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que deu origem a praticamente todos os tipos de café cultivados atualmente no Brasil e a um dos bancos de variedades e espécies de café mais completos do mundo. Dos 80 anos de sua vida (1913-1993), Alcides dedicou mais de 50 ao trabalho no IAC.”(www.canalciencia.ibict.br/notaveis/alcides_carvalho.html. Acesso em março/2016).


Imagem 01- Google Earth- acesso em 24/03/2016

Imagem 02- Google Earth- acesso em 24/03/2016

Vista aérea da relação do bem tombado com a

implantação do prédio central em estudo de tombamento.

CARACTERÍSTICAS ARQUITETÔNICAS:

A edificação em questão apresenta características peculiares de implantação com relação às demais construções que compõem o conjunto arquitetônico do Instituto Agronômico de Campinas. A configuração espacial no lote é bastante despojada e imponente, com formas plenas e retilíneas.

A planta do imóvel corresponde a uma área de aproximadamente 8.000 metros quadrados de construção. Este conjunto foi erigido por meio de quatro estruturas, sendo uma maior e central (Imagem 03, nº 01) com dois corpos laterais (Imagem 03), um largo (Imagem 03, nº 02), o outro estreito (Imagem 03, nº 03), estes, na forma retangular. A quarta estrutura localiza-se na fachada Oeste, conforme identificado na Imagem 03, nº 04. O corpo principal possui dimensão maior em relação às demais. Esta parte maior da edificação distribui-se em três pavimentos, tendo o térreo pé direito duplo, enquanto que os blocos laterais e aquele que sedia o auditório (Imagem 03, nº 04) apresentam apenas um pavimento. O térreo da construção principal constitui-se de saguão, sanitários, salas de administração, recepção, depósito, mezanino, escadaria e elevador. O segundo e terceiro pavimentos possuem salas da diretoria e assessoria, além de sanitários e corredor de circulação. Os corpos laterais, por sua vez, sediam a biblioteca, as salas de pesquisa (Imagem 03, nº 02), as salas administrativas e os laboratórios (Imagem 03, nº 03).

Imagem 03- Google Earth- acesso em 24/03/2016

A tipologia arquitetônica adotada para abrigar a sede da Instituição representa uma estética diferenciada no espaço físico em que se situa, mais funcional, marcada pelas formas geométricas definidas e pela falta de ornamentação. A estrutura é evidenciada como valor estético em si. “... Cerca de 250 toneladas de ferro e 25 mil sacas de cimento foram gastos nesse prédio.” (Carta Periódica aos Técnicos do IAC”, Ano I, nº 2, 1963). Os vãos das fachadas do edifício principal da edificação apresentam forma modular propiciando ritmo tanto internamente como externamente na edificação. O saguão de entrada “...é um dos pontos altos...nele foram gastos mil metros quadrados de mármore, utilizados vidros-cristal e onde serão executados sete painéis...”(Carta Periódica aos Técnicos do IAC”, Ano I, nº 2, 1963), (Fotos 02 e 03). As paredes de alvenaria de concreto, aço e vidro nas envasaduras sustentam-se por pilares de seção quadrada e elegantes pilotis de seção circular. Estes pilares se projetam debaixo de marquises retas e curvas propiciando certa leveza visual (Fotos de 04 a 13).

Vista das aberturas modulares do saguão principal.


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Vista dos pilares de seção quadrada e pilotis de seção circular que sustentam as marquises que compõem a edificação.

Fotos do autor - 24/03/2016

 

A edificação em estudo de tombamento representa claramente o estilo moderno nas formas retangulares, com ângulo reto e linhas curvas que permitem certa organicidade e simplicidade na composição do desenho arquitetônico. No âmbito geral e no contexto do referido prédio com o entorno, sua “frieza” racionalista se mescla de maneira agradável com os edifícios mais antigos e tradicionais tombados, bem como com o maciço arbóreo existente.


Foto 6

Vista das fachadas externas da edificação constituída de seus elementos de composição arquitetônica, os vãos modulares, as marquises vazadas e os brises horizontais.

Fotos do autor- 24/03/2016


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Vista dos volumes componentes da edificação que, a partir de suas linhas e ângulos retos, vãos modulados por colunas verticais e brises horizontais, representam nitidamente a arquitetura modernista.


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Porém, ainda assim, compõe-se de elementos imbuídos de plasticidade e elegância que quebram a rigidez das linhas retas, como é o caso da escadaria existente no saguão principal. Esta escada apresenta um desenho envolvente e convidativo no volume e na disposição dos degraus emoldurados pelos corrimãos que suavemente se curvam de um lado para outro no movimento de vencer os vãos dos pavimentos superiores (Fotos de 14 a 22).

Foto 14


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Vistas da escadaria interna existente no saguão principal da edificação

Fotos do autor- 24/03/2016


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Vistas da fachada externa composta pelo volume da escadaria interna existente no saguão principal da edificação

Fotos do autor – 24/03/2016

 


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Foto 24


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Os revestimentos (Fotos 23 a 31) também são elementos que caracterizam o estilo arquitetônico da edificação em estudo de tombamento: na área externa, contém pastilhas; no interior, identifica-se a presença do mármore no piso (Fotos 24 e 25), nas paredes (Foto 23), nos degraus da escadaria (Fotos 14 a 19) e nos pilares cilíndricos e quadrados; o granilite (Fotos 26 e 27) e o taco de madeira (Fotos 28 a 31) também correspondem aos revestimentos utilizados.


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Foto 28


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Foto 31

Vistas dos revestimentos dos pisos existentes em granilite e taco de madeira no interior dos pavimentos térreo e superior da edificação.

Fotos do autor- 24/03/2016

CONCLUSÃO:

Em função do excelente estado de conservação e da total integridade do prédio central/sede “Alcides Carvalho”- do Instituto Agronômico de Campinas – IAC – , sugerimos o tombamento de todos os elementos que compõem a arquitetura da edificação, considerando-se as seguintes descrições:

1- Todas as fachadas;

2- Todas as volumetrias;

3- A escadaria principal do saguão que dá acesso ao pavimento superior na totalidade;

4- O saguão do pavimento térreo na totalidade;

5- Os revestimentos de piso, parede, forros, pilares e degraus na totalidade;

6- Todas as marquises componentes das fachadas externas e internas;

7- O conjunto de “brise soleil” horizontais na totalidade.

A área envoltória deverá seguir a mesma constante no Processo de Tombamento 005/2000, Resolução 143/2015.

Imagem 04- Google Earth- acesso em 24/03/2016