Brincando na Rede: coletivo de artistas desenvolve plataforma virtual para apoiar escolas e famílias durante pandemia

Crédito: Esquina Cômica

Quintal Garatuja e Esquina Cômica, grupos culturais situados em Campinas estão promovendo a Mostra Cultural Online “Brincando na Rede”, desenvolvida inteiramente dentro da plataforma virtual http://brincandonarede.com. O conteúdo é gratuito e pode ser acessado a partir desta segunda-feira, 26 de abril, por pessoas de todas as idades, com foco em crianças, famílias e escolas de educação infantil.

Ao todo, nove grupos artísticos da cidade participam deste projeto. Cada um foi responsável pela produção de seu próprio conteúdo, mas, como o próprio nome da Mostra propõe, as etapas de criação e desenvolvimento se deram em rede – com reuniões virtuais e provocações trazidas principalmente no âmbito de acessibilidade.

A plataforma é dividida entre os coletivos participantes: Berimb'artes, Cia. Fio de Chuva de Teatro, Cia. Teatral Fábulas & Câmera 55, Coletivo Passarinha, DiDanDa - Grupo Experimental de Dança, Esquina Cômica, Família Canta Contos, Grupo Grito e Quintal Garatuja. Quando o internauta clica em um destes nomes, consegue acessar o conteúdo produzido pelo grupo selecionado; um texto criado pelos integrantes contando detalhes e curiosidade da obra; o histórico e demais informações sobre a atuação do mesmo na cidade de Campinas.

“Brincando na Rede” foi contemplado pelo Edital Ações em Rede, da Prefeitura Municipal de Campinas, e traz uma porção de variedades lúdicas e educativas: aulas, oficinas, audiovisual, capoeira, cidadania cultural, circo, contação de histórias, cultura afro-brasileira, cultura da infância, cultura digital, dança, design, fotografia, música, teatro e vídeo. Além disso, o projeto foi construído totalmente acessível para pessoas com deficiência auditiva.

“Criamos uma ferramenta que pode servir para as professoras usarem como atividade, inclusive damos algumas sugestões de como utilizarem os vídeos em suas didáticas”, explica Allan Ortega, ator, palhaço e membro do Esquina Cômica. “Vamos deixar um espaço para que as pessoas possam comentar. Queremos receber este retorno de todos”.

Este projeto foi realizado com recursos da Lei Federal nº 14.017, de 29 de junho de 2020 – Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc.

Rede Garatuja

Para a seleção dos grupos que compõem a Mostra Cultural Online “Brincando na Rede”, os responsáveis pelo projeto traçaram uma rede de contatos que contemplassem os seguintes critérios: identidade, território e linguagem. Com este perfil, foi possível selecionar coletivos de diferentes localidades e regiões de Campinas, todos com alta qualidade e pluralidade de conteúdo.

Segundo Pamela Leoni, atriz, palhaça e membro do Esquina Cômica, descentralizar o território de Campinas tornou-se necessário para fortalecer os nomes de cada grupo. “Percebemos que a rede que conectamos abrange uma grande parte da cidade. Temos aqui grupos que não são tão conhecidos e que estão tendo a chance de serem vistos por outras regiões”.

Esta foi a oportunidade que encontraram também de remunerar grupos com trabalhos voltados ao público infantil que de alguma forma não escreveriam um projeto neste momento. “Procuramos sempre trabalhar em rede, nos apoiando em outros grupos com este mesmo perfil na cidade. Estávamos entendendo como distribuir estes recursos e quisemos trazer pessoas que buscam fortalecer a ideia de cultura”, relata Pamella Villanova, atriz e membro do Quintal Garatuja e Coletivo Passarinha.

Processo de criação

Para a criação da Mostra, Quintal Garatuja e Esquina Cômica realizaram um ciclo de três encontros virtuais que possibilitou uma formação em acessibilidade a todos os artistas envolvidos no projeto.

Uma das artistas convidadas para integrar a rede foi Daniella Forchetti, audiodescritora que trabalha no setor cultural e que trouxe provocações sobre acessibilidade desde o processo criativo dos grupos. “Acessibilidade é uma pauta urgente, tanto para ampliar a capacidade de alcançar o público, como para cumprir as leis”, aponta Villanova. “No início de fevereiro a Daniella nos trouxe várias provocações, a gente foi trocando e ao mesmo tempo trabalhando em rede com os grupos”.

Deste processo, surgiu um conteúdo produzido de forma coletiva, mesmo que cada grupo assine suas obras individualmente. “Foi uma construção individual e ao mesmo tempo coletiva através destes encontros – a gente chamou os grupos e não as obras, e eles foram construindo ao longo destes encontros”, conta o músico e membro do Quintal Garatuja Dudu Ferraz. “Trocamos técnicas de edição, de audiovisual, como fazer legenda, melhor lugar de subir o vídeo e ferramentas... aprendemos em conjunto, e o resultado ficou incrível”.

Atendendo a pedidos

“Brincando na Rede” é fruto de um trabalho que começou a ser desenvolvido no segundo semestre de 2020 – e que brotou como uma questão de necessidade para a cultura da região e a comunidade escolar de todo o Brasil.

O Coletivo Passarinha, que trabalha diretamente com arte voltada às escolas públicas e faz a gestão do Quintal Garatuja, lançou na época um projeto para algumas educadoras de diversos estados. “Fizemos um formulário e perguntamos: Como a arte pode apoiar a escola pública neste momento?”, relata Villanova, apontando o estado crítico no qual a educação se encontrava (e ainda se encontra) durante a pandemia.

“Com esta pesquisa reunimos 60 respostas de educadoras(es) de vários estados, não só São Paulo, e muitos nos informaram que a construção de pequenos vídeos poderia ser um bom apoio para a escola pública”, relata a atriz.

“Brincando na Rede” é um projeto que se propõe a oferecer um espaço seguro para as crianças em ambiente virtual, mas que ao mesmo tempo as provoque a sair da tela, trazendo mais envolvimento da família na educação dos filhos – e divertimento, porque estes tempos pedem.

“Nem sempre nós adultos, enquanto público, conseguimos entender o potencial de um material artístico e trazer isso para a educação da criança, até porque não conseguimos assimilar um conteúdo da mesma forma que elas assimilam. Queremos propor um olhar mais atento e sensível para essa formação, fugindo das plataformas convencionais – e um lugar seguro que as crianças possam frequentar”, finaliza Dudu.