A Lavagem das Escadarias da Catedral Metropolitana no olhar dos fotógrafos

As fotógrafas Regina Rocha Pitta, Fabiana Ribeiro e Cássia Belini e os fotógrafos Celso Palermo, Robson Sampaio e João Almeida trazem diferentes olhares sobre uma das principais celebrações da cultura tradicional na cidade, a Lavagem das Escadarias da Catedral Metropolitana. As fotos estarão expostas no saguão da Estação Cultura, retomando a agenda de mostras que acontecem no local.

A exposição pode ser vista desta sexta-feira, 8 de abril, a 15 de maio, de segunda a sábado das 9h às 19h, e aos domingos e feriados das 10h às 15h. A entrada é gratuita. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo apoia a iniciativa.

O conjunto é composto por 40 imagens no tamanho de 40 x 60 cm, abrangendo o período entre 2011 e 2018. As obras formam um recorte do grande festejo da Lavagem, que contempla  a união entre as religiões, a diversidade e a confraternização entre raças e culturas.

Fotos

A mostra traz o fotógrafo Celso Palermo com seu trabalho autoral marcantemente forte e reconhecido. O preto e branco com imagens intensamente contrastadas e poéticas são da fotógrafa Regina Rocha Pitta, que traz o vigor e a energia da vibrante cultura e religiosidade dos povos de matriz africana.

A fotografia de Robson Sampaio, em imagens com planos abertos e amplos, mostra a grandeza da realização da Lavagem das Escadarias da Catedral. João Almeida, cuja fotografia é construída ao lado de seu papel de militância em movimentos populares e sociais, reforça a importância do povo negro criar seu próprio registro e documentação.

A fotógrafa Cássia Belini, que ministra oficinas de inserção e inclusão de pessoas na linguagem da fotografia, traz em suas imagens os pequenos detalhes que passam muitas vezes despercebidos dos olhares. Já Fabiana Ribeiro continua o seu trabalho, com lentes engajadas que militam e fotodocumentam movimentos culturais, captando retratos da nossa gente e das manifestações culturais.

A importância da Mostra nas palavras das organizadoras

A Lavagem das Escadarias da Catedral Metropolitana de Campinas acontece todos os anos, desde 1985, no Sábado de Aleluia. O evento é uma mistura de fé, religião, tradição, cultura, e celebra a resistência dos povos negros vindos de todas as partes do território africano, com seu rico legado cultural e religioso.

Mãe Dango Hongolo, juntamente com Mãe Corajacy, são as organizadoras do evento. “A exposição é um carinho e reconhecimento da nossa luta no combate ao preconceito religioso e ao racismo estrutural, ao contar a trajetória da lavagem das escadarias da catedral metropolitana de Campinas. Os rostos que estão nas fotografias contam a história de mais de 30 anos. A Mostra é um trabalho que valoriza toda nossa luta”, diz a Mãe Dango, uma das idealizadoras e organizadoras, sobre a importância da exposição.

Mãe Corajacy se emociona ao falar da exposição e recordar as pessoas que fazem parte da celebração popular. “Meu coração fica repleto de alegria em ver a exposição da lavagem da escadaria. Ficamos emocionadas com a arte da fotografia de construir novos modos de escrita. Fotografar e narrar as nossas histórias, histórias de mulheres negras. Estamos com muitas saudades de todas/todos. Agradecemos aos profissionais que contam as nossas histórias por meio da fotografia”, enfatiza.

Celebração cultural

O saguão da Estação Cultura é um dos pontos de concentração da celebração cultural. Sábado de Aleluia é o dia que a Rua Treze de Maio fica ocupada pelas culturas popular e tradicional em suas expressões e manifestações. O percurso que vai da Estação Cultura até a Catedral Metropolitana fica perfumado de alfazema carregado em quartinhas (recipiente de barro ou cerâmica com uma tampa em cima, muito parecida com uma jarra utilizada pelas religiões de matriz africana). Religiosos vestidos de um branco impecável, carregando muitas flores, se misturam a grupos de cultura popular com instrumentos que carregam a cultura negra. As pessoas fazem o cortejo cantando e dançando.

Neste ano, como tem acontecido desde o início da pandemia, em 2020, não ocorrerá o tradicional cortejo e a concentração na Estação Cultura. Embora as pessoas não estejam fisicamente, o espaço cultural abrigará a exposição A Lavagem das Escadarias da Catedral Metropolitana de Campinas, com obras de fotógrafas e fotógrafos que há anos acompanham a celebração, registrando, por meio de imagens, a resistência dos povos negros vindos de todas as partes do território africano para Brasil, com seu rico legado cultural e religioso e que faz parte da diversidade cultural da cidade de Campinas.

Cânticos, flores e muita água de cheiro

Vale ressaltar que, fora do Estado da Bahia, Campinas foi a primeira cidade a celebrar este ritual no Brasil, tornando pública a existência do culto à Tradição dos Nkisis nesta região. O evento integra o calendário oficial cultural de Campinas, após aprovação de projeto de lei em 1997.

O ato religioso se originou após Mãe Dango, que exercia a função de gari, ter sido vítima de preconceito cultural e religioso em frente à Catedral Metropolitana de Campinas, dedicada a N.Sra. da Conceição, a quem Mãe Dango, no momento, rogou em prece para que não mais permitisse tal constrangimento. Em sua oração, Mãe Dango lembrou que muitos dos africanos escravos e seus descendentes trabalharam para erguer a edificação, e prometeu lavar as escadarias da Catedral, em atitude contrária à intolerância, mas para disseminar o amor, a paz e a união.

A manifestação não fica só por conta da lavagem das escadarias. Antes disso, os participantes fazem um cortejo que sai da Estação Cultura, descendo pela Rua 13 de Maio em direção à Catedral, com cânticos, flores e muita água de cheiro que, ao final da lavagem, perfuma o público presente. Durante o dia, várias atividades culturais e sociais são oferecidas aos que prestigiam o evento. Entre as apresentações estão o Jongo, a Congada, a Folia de Reis, a Catira, a Dança Afro, a Capoeira e o Samba. No local ainda há barracas de comidas típicas e artesanatos.

Serviço

Lavagem das Escadarias da Catedral Metropolitana de Campinas

Exposição das obras das fotógrafas Regina Rocha Pitta, Fabiana Ribeiro e Cássia Belini e dos fotógrafos Celso Palermo, Robson Sampaio e João Almeida

De 8 de abril a 15 de maio

De segunda a sábado das 9h às 19h, domingos e feriados das 10h às 15h

Local: Saguão da Estação Cultura

Endereço: Praça Marechal Floriano Peixoto, S/N

Entrada gratuita