Produtora de Campinas lança livro sobre a escrita e realização de projetos culturais

Será lançado sábado, dia 19 de junho, o livro Elaboração de Projetos para o Desenvolvimento de Agentes e Agendas, da produtora, gestora cultural e pesquisadora de políticas culturais, Daniele Sampaio, de Campinas. O lançamento será às 17h, no Canal do YouTube do Festival Cena Contemporânea de Brasília. Acesso em https://m.youtube.com/CenaContemporâneaFestival

A autora parte de suas experiências no campo da produção, de seu trabalho formativo e de suas reflexões sobre políticas culturais para compartilhar referências seguras e dicas preciosas para a elaboração de projetos. A versão digital da obra foi realizada com recursos da Lei Federal No 14.017, de 29 de junho de 2020 - Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, edital Ações em Rede.

A publicação, que tem orelha assinada pela Doutora em História e autora de livros e artigos sobre políticas culturais Lia Calabre e prefácio do gestor cultural e professor Rômulo Avelar, será veiculada pela SIM! Cultura e a Editora Javali no formato de e-book com distribuição gratuita.

Elaboração de Projetos para o Desenvolvimento de Agentes e Agendas também será disponibilizado em uma série especial com 300 exemplares físicos, sendo 150 distribuídos gratuitamente para instituições culturais mapeadas pela equipe de produção do projeto e 150 vendidos a preços populares (R$ 20) pela Editora Javali. 

Segundo livro de Daniele Sampaio, Elaboração de Projetos para o Desenvolvimento de Agentes e Agendas foi criado para ser um suporte imediato no cotidiano das trabalhadoras e trabalhadores da cultura, submetidos a uma árdua condição desde o início da quarentena. Para a autora, a experiência de integrar uma série de grupos nos âmbitos local, estadual e federal em função dos debates em torno da Lei Aldir Blanc, configurou-se como um doloroso laboratório acerca da precariedade e desespero que, notadamente, marca a experiência de inúmeros agentes culturais no Brasil hoje.

“Este quadro, bem sabemos, não é de agora. Mas claramente se tornou insustentável ao longo de 2020/2021. Além disso, a experiência ministrando cursos de produção e gestão cultural nos últimos 12 anos retificou diversas vezes como o exercício da escrita é um dos grandes desafios enfrentados pelas/os agentes culturais. Não conseguir escrever um projeto que dialogue com os territórios dos próprios agentes e com os editais é, no limite, não ter acesso aos recursos. É como uma película de vidro que aparta esses sujeitos dos instrumentos de financiamento para a manutenção de seus trabalhos”, conta Daniele.

Quem pode escrever?

Indo além de um roteiro meramente técnico, Elaboração de Projetos para o Desenvolvimento de Agentes e Agendas traz uma pergunta fundamental: Quem pode escrever?, mas antes vincula algumas ações, como inclusão, elaboração [crítica] de projetos, participação social, atuação política e financiamento à cultura, à construção de agendas e ao reconhecimento das políticas culturais como determinantes nos arranjos e modos de fazer.

“Eu não estava interessada em reiterar a ideia de que escrever um projeto é uma dinâmica simples de pergunta e resposta. Refutei isso veemente e procurei desenvolver um texto que pudesse contextualizar o histórico de políticas culturais, demonstrando como a escrita de projetos é uma habilidade requerida às e aos agentes culturais recentemente. Se é uma habilidade, significa que ela pode ser apreendida, desenvolvida. E para ser desenvolvida, lanço mão da técnica, que não é, de maneira nenhuma, pouco importante neste processo, mas igualmente não é suficiente”, ressalta a autora.

Pensando nisso, Daniele Sampaio apresenta na segunda parte do livro uma estrutura básica para a elaboração de um projeto, procurando iluminar quais são as perguntas-chaves que devem estar em cada um dos tópicos. No entanto, depois de contemplar o aspecto técnico, a autora frisa que o desenvolvimento do texto pode estar comprometido com as dimensões social e política intrínsecas, a seu ver, à atuação de agentes culturais, trazendo ao debate a noção de escrita cidadã.

Escrita cidadã 

A autora Daniele Sampaio esclarece que a escrita cidadã é uma escrita que não é de maneira nenhuma ensimesmada e apartada do próprio território ou do contexto histórico que estamos inseridos. É uma escrita que requer uma outra atitude diante dos projetos, não vendo mais como o próximo evento cultural, mas como a próxima etapa de uma trajetória artística.

Escrita cidadã também está relacionada à compreensão da função na gestão dos recursos (público ou privado) como meio e não fim. O que significa compreender o compromisso de fazer com que as iniciativas artístico-culturais cheguem, efetivamente, à população.  

“Para além da retórica, precisamos admitir, verdadeiramente, a cultura como eixo de desenvolvimento e não como uma simples ferramenta. O livro Elaboração de Projetos para o Desenvolvimento de Agentes e Agendas é uma pequena contribuição, mas espero que possa reverberar nas práticas de agentes culturais brasileiras/os, conectando as ações cotidianas à construção de agendas progressistas”, acredita Daniele.

Pesquisa em produção cultural

Daniele Sampaio também é autora do livro Agentes Invisíveis e Modos de Produção nos Primeiros Anos do Workcenter of Jerzy Grotowski (Editora Javali), que foi lançado em março de 2020 na programação da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.

A publicação, que já integra a bibliografia de diferentes universidades brasileiras, acaba de chegar à Universidade de Coimbra (Portugal) onde a autora participa, como convidada, de um seminário internacional no próximo mês de outubro.

No livro, desenvolvido ao longo de sete anos, Daniele Sampaio investiga a práxis cotidiana do trabalho da produção quando não há objeto artístico, ampliando a compreensão sobre o alcance da ação da produção em trajetórias artísticas de pesquisa, independentes e/ou experimentais. A obra, além de iluminar agentes invisíveis que atuaram na produção de um grande nome do teatro do século XX, amplia o entendimento sobre a função e o alcance da produção e o papel fundamental dos artistas na gestão e produção de si.